“A mulher tem criatividade e inovação por causa das dificuldades do dia a dia”

Neste mês da Mulher, vamos contar um pouco da história de quatro mulheres líderes de comunidades parceiras da Misturaí na série Essas Mulheres. Começamos com a Daysi Cristina Martins dos Santos, co-fundadora da ong Multiplicar amor, incluir saber 

Ser psicóloga é o sonho da Daysi, 38 anos, mãe de três filhos, moradora do Morro da Polícia, em Porto Alegre. Empreendedora social, é co-fundadora da ONG Multiplicar Amor, Incluir Saber, que conta com a parceria da Misturaí. Daysi Cristina Martins dos Santos é dessas mulheres que não deixa a peteca cair, que vai atrás e “segura o rojão”. Para ela, a importância das mulheres nas comunidades hoje em dia é fundamental. “A mulher tem criatividade e inovação por causa das dificuldades do dia a dia (falta de um local seguro para deixar os filhos, insegurança com a violência) contribuem para o empreendedorismo através de alternativas de conciliar o serviço de casa, educação dos filhos e seus negócios para ter sua independência financeira”, diz.

A Daysi trabalha desde a infância, sempre foi curiosa, gosta de aprender, de estudar, passou por situações tristes e traumáticas, como abuso. “Isso me tornou uma adolescente agressiva e sempre na defensiva, me trouxe prejuízos de socialização e interação e minha vontade de ser psicóloga é para ajudar as pessoas a superarem seus traumas”. A rotina da Daysi na comunidade é cansativa, ela, como líder social, abraça tudo, não só as atividades, mas os problemas de cada um, cuida, se dispõe sempre que pode.

Mas ela não desmorona. Acredita que as mulheres conquistaram muitas coisas, mas longe da igualdade. “Ainda sofremos abusos, discriminação, machismo e desvalorização do trabalho mesmo exercendo melhor que homens algumas funções”, comenta destacando que a mulher de sua referência é a avó, dona Ana Maria: “é a melhor piscopedagoga que conheço sem ter concluído o ensino fundamental, me ensinou sobre espiritualidade, humanidade, costura, cozinha, artesanato e muitas outras coisas, mas o melhor que aprendi com ela foi fazer o bem sem olhar a quem”, se emociona.

Sobre os motivos que a levaram a trabalhar em prol da comunidade e fundar a ONG: “Vivo no Morro da Polícia em Porto Alegre desde que nasci, em meio a tiros, facções, vendo adolescentes perderem suas vidas no tráfico de drogas sem oportunidade de escolha. Conviver com o medo de bala perdida, invasão da casa e outros desafios do cenário comum das favelas do Brasil, me fizeram decidir desde criança a ser do bem, e sabendo por experiência própria os tipos de abusos e violência que crianças vulneráveis passam dentro de seus lares, convivendo com alcoólatras, drogados, e violências veladas, me movem em direção do empreendedorismo social com o intuito de amenizar o sofrimento de crianças e adolescentes oportunizando dignidade.”

Texto: Cátia Chagas, Comunicação Misturaí

Fotos: Arquivo Pessoal