De repente você está passando pela Redenção, pela Cidade Baixa, pelo Sarandi ou Ilha do Pavão e encontra no caminho uma “estante-casinha” cheia de exemplares de livros de diversos títulos e gêneros e você pode pegar para ler, levar para casa, devolver outro dia e o melhor, você também pode doar aquele que está na sua casa e ninguém lê mais quando passar por elas de novo. Essa é a ideia do Projeto Lê aí, idealizado em parceria com a UFRGS, Banco de Livros e a ONG Misturaí para incentivar o acesso a livros, à leitura, à oportunidade de diversificar as bibliotecas caseiras, mas principalmente a doação, a troca, o hábito.
De acordo com o professor da UFRGS e também voluntário da Misturaí, Fabiano Couto, o projeto ainda é piloto e está começando com essas quatro casas, distribuídas nos quatro bairros. “Na Redenção (loja Cultura Local) e na Cidade Baixa (loja Maria Futrica) as casas estão em frente a lojas, aonde são cuidadas e recolhidas ao fim do dia. Também temos uma no Sarandi, na Biblioteca Comunitária Girassol e outra na Ilha do Pavão. Mas a ideia é que se expanda e principalmente atenda às comunidades com mais vulnerabilidade social”, comenta.
Por enquanto, são 50 livros distribuídos por semana, 200 por mês, doados pelo Banco do Livro, que recebe muitas obras das editoras. “É um incen樂威壯 tivo para que se tenha livros disponíveis, em circulação. Mas o objetivo é que as pessoas troquem, doem também”, explica Fabiano.
Na Redenção, na loja de artesanato, trabalha a Cilene Gomes e é ela quem cuida da casinha e observa os leitores que passam por lá. “Eles pegam os livros e leem ali, no banco, na parada do ônibus e depois devolvem”, conta ela. Para o professor Fabiano as pessoas estão transformando a área em uma “biblioteca ao ar livre”. Para a vice-presidente da Misturaí, Adriana Linhares, que esteve na loja para ver de perto, o “projeto é muito importante para incentivar a leitura e disponibilizar livros para quem não tem acesso”, disse.
A moradora do bairro Elizabeth Horn passou por lá e doou alguns exemplares da sua biblioteca pessoal. Uma verdadeira devoradora de livros, a Beth, como é chamada, além de ler em vários idiomas, conta com maior senso de humor o que sabe das biografias dos autores das obras que lê. Ela deixou uns cinco exemplares na “estante-casinha”. “Eu tenho outros para trazer, mas como estou com dor no braço, vou trazer depois”, disse ela empolgada. “É muito importante as pessoas lerem”, completa. A Beth tem sua biografia publicada também. “Juro que é verdade”, sua história é instigante, engraçada e mostra uma mulher muito à frente do seu tempo. Uma leitura que também vale a pena.